Segundo os critérios da OMS, Rio Claro está no mais alto patamar de risco de transmissão.
Eduardo Kokubun - Unesp
Há um ano, em 28/06/2020, Rio Claro estava no 96.º dia após o registro do primeiro caso de Covid-19 no município. A cidade retrocedeu para a fase vermelha que permitia o funcionamento somente de serviços essenciais: saúde, farmácia, supermercados e padarias. O registro de 29 novos casos e duas mortes levou à ocupação máxima dos 79 leitos. A média móvel de 7 dias foi de 33 novos casos, 8 óbitos em 7 dias e 492 casos ativos. O prefeito à época declarou, em entrevista que anunciou a implantação da fase vermelha, que "Parte da sociedade não observou a importância do distanciamento."
Ontem, 28/06/2021, chegamos ao 462.º dia, com o registro de 58 novos casos e duas mortes com a ocupação de 118 leitos, que corresponde a 68% do total disponível. A média móvel de 7 dias foi de 80 novos casos, 17 óbitos em 7 dias e 937 casos ativos. É a 11.ª semana da fase vermelha de transição do Plano São Paulo.
Após 365 dias, registramos 100% mais novos casos, igual número de mortes, mas a taxa de ocupação de leitos caiu 32%. A média móvel de novos casos aumentou 142%, de óbitos em 7 dias em 49% e de casos ativos 90%. A pandemia piorou, exceto pela ocupação de leitos, que aliviou porque mais leitos foram instalados na cidade: passou de 79 a 173, um aumento de 120%.
Para dimensionar a gravidade da pandemia, recorremos a um documento publicado pela OMS em 14/06/2021, com as recomendações para o enfrentamento da pandemia. É um documento com recomendações atualizadas para o enfrentamento da pandemia, considerando o avanço da vacinação, da imunização natural e surgimento de novas variantes. Uma atualização importante é uma tabela de classificação de risco de transmissão, com base em 4 indicadores: hospitalizações, mortalidade e incidência de casos registrados nos últimos 7 dias corrigidos para uma população de 100 mil habitantes, além da % de testes positivos para Covid-19.
Os gráficos mostram que a situação da pandemia em Rio Claro é de risco muito alto, mesmo com o avanço da vacinação. Hospitalizações melhoraram em relação há um ano, porém ainda estamos na faixa de risco alto. Os outros três indicadores aumentaram na comparação com um ano atrás. Mortalidade e incidência deram um salto, passando de risco alto para muito alto. A porcentagem de testes positivos foi e continua na faixa de risco muito alto.
A OMS recomenda que enquanto uma região não alcançar a faixa de baixo risco de transmissão, a comunidade não baixe a guarda: distanciamento, uso de máscaras, restrições às aglomerações não devem ser abandonados. Deixar de usar máscaras, assistir a uma partida da Eurocopa na arquibancada só será prudente quando as barras de Rio Claro se tornarem verdes: menos de 5 internações, 1 óbito e 20 casos semanais por 100 mil habitantes, e taxa de positividade menor do que 2%.
O alívio no sistema hospitalar que Rio Claro experimenta no momento, não é motivo ainda para o relaxamento. Não pode ofuscar que a transmissão é a principal causa da pandemia e ela sim, deve ser combatida. Abrir leitos dá dignidade ao doente sim. Melhor seria não ter doente. É como em jogo de futebol: com a zaga fraca, um bom goleiro resolve?
WHO. Considerations for implementing and adjusting public health and social measures in the context of COVID-19. 14/06/2021. https://www.who.int/publications/i/item/considerations-in-adjusting-public-health-and-social-measures-in-the-context-of-covid-19-interim-guidance. Acessado em 29/06/2021.