quarta-feira, 9 de junho de 2021

Vacinação rejuvenece a pandemia

A estratégia de vacinação por idade, está criando ciclos da pandemia: dos idosos, da meia-idade e de adultos jovens. Ontem, filhos lutavam por vagas para os pais. Sem cuidados, a ordem natural pode se inverter.

Eduardo Kokubun. Unesp-Rio Claro

Rio Claro vacinou em fevereiro, idosos com mais de 80 anos, em março aqueles com mais de 70 anos e em abril, aqueles com mais de 60 anos. Nem todas essas pessoas completaram o esquema vacinal de duas doses, mas foi o suficiente para reduzir casos, internações e óbitos em idosos em 16%, 20% e 41%, conforme mostramos no BAC 110 de 02/06/2021. Com a pandemia acelerando em maio, sem a proteção das vacinas teríamos 111 mais óbitos do que foi registrado.

Quando a segunda dose da vacina for aplicada em todos os idosos acima de 60 anos, o que dever ocorrer em final de julho e início de agosto, essa população será menos vulnerável derrubando sua participação nas estatísticas da pandemia. Metade das hospitalizações e 3 em cada 4 óbitos que ocorriam em idosos antes da vacinação despencarão, conforme projeção no BAC 84 de 19/02/2021. Restarão para engordar as estatísticas, casos, internações e óbitos na meia-idade, entre 40 e 55 anos, e adultos jovens, com menos de 40 anos.

Será cada vez mais comum que a doença acometa pessoas com menos idade. Raro será encontrar um idosos ocupando leito no covidário ou colunas de obituário. Cada vez mais ouviremos: "Nossa, é/era tão jovem!" junto à sensação de que a ordem natural foi invertida.

Enquanto a vacinação não alcançar todos os adultos, a pandemia poderá continuar marcando ciclos: o primeiro ciclo cujo fim se avizinha é dos idosos. Estamos entrando no ciclo da pandemia da meia idade. O próximo será a pandemia de adultos jovens.

Porém, o rejuvenescimento não pode dar espaço à falsa persensação de que o pior já passou. O número absoluto de casos vem aumentando sim, à custa dos adultos de meia-idade e jovens. Pode ser que os casos sejam menos graves sim por terem menos fatores de risco. Até podem permanecer menos tempo hospitalizados, liberando vaga mais rapidamente para um outro doente. Mas, a capacidade hospitalar é finita. Se houver uma avalanche de doentes de meia-idade e jovens, ela vai saturar. 

Novamente, poderemos ver superlotação de hospitais disseminando para cemitérios. Porém, com a ordem natural invertida: não serão filhos lutando por vaga ou enterro dos pais e sim o contrário.



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