Adilson Roberto Gonçalves
IPBEN Unesp Rio Claro
À parte do conteúdo das respostas, ela pouco pôde responder de forma completa, o que já foi chamado em inglês de manterrupting, a interrupção por homens quando mulheres estão falando. A argumentação dos senadores é que a depoente estava se utilizando da tergiversação para não responder objetivamente ao inquérito, mas houve notório excesso. Pela transcrição da oitiva dá para se notar as dezenas de vezes em que duas vozes falavam simultaneamente, a de um senador inquiridor e a da Dra. Nise (veja aqui).
Defensora da cloroquina e da hidroxicloroquina como medicamentos contra covid-19 no que se chama de tratamento precoce, a Dra. Nise não conseguiu apontar um trabalho científico publicado em revista de expressão na área que corroborasse a versão de que tal tratamento é eficaz. Ela apenas apontou uma série de outros artigos de revistas de menor impacto e relatórios de institutos de pesquisa. O senador Alessandro Vieira informou que um desses projetos conduzidos pela Fundação Henry Ford foi interrompido por total falta de conclusões científicas. Ela entendia que os estudos continuavam válidos.
Mesmo quando inquirida sobre assuntos fundamentais de virologia e infectologia pelo senador Otto Alencar, a Dra. Nise se atrapalhou e cometeu equívocos. Porém a maioria de suas respostas técnicas foi correta, à exceção dos comentários sobre vacinas, atribuindo incertezas que não existem. Novamente, para uma excelente aula sobre vacinas, vejam a entrevista com o professor Osmar Malaspina nos Diálogos Unesp.
Em comparação com depoimentos anteriores quanto ao uso de certas palavras (veja aqui), cloroquina foi mencionada 155 vezes enquanto que vacina 190 vezes, o que correspondem a 40% e 49%, respectivamente, do total de palavras selecionadas. A CPI busca argumentos para evidenciar culpados pela má condução da pandemia e as teses que são apresentadas, como a desta semana justificando a cloroquina em detrimento à vacina, se mostram indefensáveis.
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