Nesta semana foram iniciados, de fato, os trabalhos da CPI da pandemia no Senado Federal com as oitivas de dois ex-ministros da Saúde e do atual ocupante dessa Pasta. No dia 4 de maio foi ouvido Luiz Henrique Mandetta, seguindo, no dia seguinte, pelo ex-minitro Nelson Teich e, na quinta-feira, 6 de maio, pelo atual ministro Marcelo Queiroga. Em comum os três são médicos de formação. Os fatos determinados para a instalação da CPI são as ações e omissões do governo federal no combate à pandemia e se houve ou não uso indevido de recursos federais por estados e municípios.
Porém, as razões políticas da CPI são muitas e os embates já se revelam e ficaram para a crônica política.
Foi realizada uma avaliação de algumas palavras empregadas durante as três oitivas. A base foi a transcrição das notas taquigráficas disponíveis no site do Senado Federal e considerando que nas arguições houve três objetivos principais: a) uso de medicamentos que não funcionam contra a covid-19, como a cloroquina; b) a ocupação de leitos de UTI; e c) as medidas efetivas, tais como o uso de máscara e a aquisição e aplicação de vacinas contra o novo coronavírus. Algumas palavras relacionadas a tais temas foram selecionadas e foi feita a contagem direta de quantas vezes foram mencionadas em cada depoimento, não fazendo distinção se foram proferidas pelos senadores ou pelos depoentes.
A tabela mostra o resultado em termos diretos e uma porcentagem calculada em função do total de vezes que tais palavras selecionadas foram usadas (na linha soma).
Apenas para dimensionar a dinâmica de tais oitivas e sua duração, Foram colocados os tempos de cada depoimento e o número de intervenções, que significa quantas vezes foi registrado que a fala de um foi interrompida por outro, tanto como intervenção quanto na transição entre pergunta e resposta. O teto de cada reunião é delimitado pelo início da reunião plenária do Senado, ou seja, os membros da CPI têm de comparecer à reunião principal, encerrando-se todas as demais reuniões de comissões.
Nota-se que para os três depoentes tanto cloroquina quanto vacina foram as palavras mais usadas. Mandetta esteve no ministério até 16 de abril de 2020, ficando no cargo cerca de 35 dias desde que a pandemia havia sido decretada pela OMS. Nelson Teich ficou apenas 29 dias e Marcelo Queiroga está há 45 dias no cargo, contados até o dia do depoimento. Há apenas uma inversão na oitiva de Nelson Teich entre as duas palavras, mas nota-se que a preocupação da CPI é estabelecer a responsabilidade pelo uso ou recomendação de uso da cloroquina e, a partir daí, a tudo o que tem sido chamado de “tratamento precoce” e à vacinação no país, que está muito atrasada em relação ao resto do mundo, havendo suspeita de boicote oficial. O interesse para medidas efetivas, como a máscara, e as preocupações com a falta de oxigênio e a lotação de leitos ficaram em segundo plano.
É cedo para uma conclusão, faltando o depoimento principal de Eduardo Pazuello que alegou ter estado em contado com assessores que testaram positivo para covid-19 e que não poderia participar na semana que passou da CPI. O general ficou à frente do Ministério por mais de dez meses quando a maioria das mortes devidas à pandemia aconteceu.
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