quarta-feira, 2 de junho de 2021

Mesmo lenta e parcial, vacinação em Rio Claro pode ter evitado mais de 100 mortes

Desde o início da campanha de vacinação, houve 40,7% menos óbitos em idosos do que o esperado.

 Eduardo Kokubun Unesp-Rio Claro

A vacinação em Rio Claro avançou alcançando 59.356 pessoas coma primeira dose e 29.657 com a segunda dose em 1/06/2021, que representam cerca de 29% e 14% da população residente no município. Ainda estamos longe da cobertura de 75% com duas doses necessárias do imunizante para controlar a pandemia, conforme estimativa do Instituto Butantã com base na vacinação em massa realizada em Serrana.

Porém, os efeitos por aqui já aparecem. O principal objetivo nesta fase da vacinação no país é o de reduzir os casos mais graves da covid-19 que levam a internações e óbitos nos grupos mais vulneráveis. Rio Claro imunizou idosos com mais de 80 anos em fevereiro, com mais de 70 anos em março e com mais de 60 em abril, superando, no início de maio, a meta de imunizar com pelo menos a primeira dose, os mais de 35 mil idosos. Outros grupos de cerca de 25 mil pessoas, entre profissionais de saúde, de educação, de segurança além de outros também receberam pelo menos uma dose de vacina. 

Para encontrar pistas da efetividade da vacinação na pandemia aqui em Rio Claro, dividimos os casos, internações e óbitos em dois grupos de idade: o primeiro de idosos com mais de 60 anos e outro de não idosos, incluindo adultos, adolescentes e crianças com menos de 60 anos. É um procedimento simplificado, mas pode ajudar a entender os efeitos da vacina.

Se a vacinação não tiver nenhum efeito, a proporção de casos, internações e óbitos entre esses dois grupos não mudaria de antes para depois do início da campanha. Por exemplo, até janeiro deste ano, Rio Claro tinha registrado 6.582 casos em não idosos, com menos de 60 anos, e 1.143 casos em idosos. Isso resulta numa razão de 100:17,4, ou seja, para cada 100 casos em não idosos houve 17,4 em idosos. Em fevereiro, primeiro mês com vacinação, ocorreram 839 casos em não idosos. Sem nenhum efeito da vacinação seriam esperados 839 x 17,4 / 100 = 146 casos. Porém, se houver proteção da vacina, haveria menos de 146 casos. Quanto maior a diferença para menos, maior seria o efeito da vacina.

Os gráficos mostram nas colunas verticais, o número de casos observados mês a mês entre os não idosos (em azul) e idosos (em vermelho) a linha tracejada mostra o número esperado de casos seguindo o cálculo que apresentamos. A célula em amarelo na tabela mostra que desde fevereiro, houve 167 casos a menos do que os 6.986 casos que seriam esperados. É uma redução de 2,4% do total de casos esperados para todas as idades e de 16,2% para os idosos.





Com relação às internações, houve 64 em idosos para 100 não idosos antes de janeiro. Em todos os meses depois do início da vacinação observa-se menor número de internações do que o esperado, totalizando 96 no período, ou 7,9% a menos em todas as idades. Se considerarmos somente os idosos, foram 20,3% menos internações.






Os efeitos sobre os óbitos são mais expressivos. Antes da vacinação foram registrados 274 óbitos em idosos para um grupo de 100 não idosos. Com exceção do mês de fevereiro quando houve mais óbitos do que o esperado, houve redução consistente na mortalidade desde o início da vacinação. Até o final de maio, a redução foi de 111 óbitos, que representa 29,8% menos ocorrências do que o esperado. Considerando somente os idosos, a redução foi de 40,7%.






Esta análise é bastante simplificada e baseia-se na premissa de que somente idosos foram parcial ou totalmente imunizados. Não considera nem a vacinação em outros grupos de prioridade, nem a tempo decorrido desde a vacinação, nem a existência de variantes. Porém, é plausível admitir que sem a vacinação, internações e óbitos tivessem aumentado no mês de maio, acompanhando o aumento no número de novos casos que foi de 1.522 para 1.778 (16,8%). Ocorreu o contrário.

Os números também expressam a percepção de que a gravidade da Covid-19 vem aumentando entre os mais jovens. Ouvimos cada vez mais que pessoas jovens foram internadas ou foram a óbito. Em parte, isso pode ser atribuído ao aparecimento de novas variantes. Porém, com a vacinação ocorrendo inicialmente nos mais idosos é também esperado que os casos em mais jovens comecem a ser mais salientes.

Até o momento, somente metade dos vacinados no município receberam a segunda dose, de modo que a o esquema de imunização não se completou. Além disso, há relatos de óbitos mesmo entre aqueles que receberam as duas doses da vacina. Com número de casos ainda elevado, o risco de transmissão do coronavírus continua elevado. No estágio de vacinação que nos encontramos, ela ainda não é capaz de conter a transmissão do vírus.
Se o anúncio do governo do estado de imunizar a toda população adulta até outubro se concretizar, é possível ter um final de ano normal ou muito próximo daquele que conhecíamos.

















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