segunda-feira, 14 de junho de 2021

Rio Claro já perdeu 10.457 anos de vida para a Covid-19

 Neste trimestre de abril a junho de 2021, que não terminou, foram 4.088 anos perdidos, 60,6% do esperado sem a pandemia.

Eduardo Kokubun - Unesp/Rio Claro

Em 2019, antes do início da pandemia, a expectativa de vida ao nascer no Brasil era de 76,6 anos. Isso significa que uma criança nascida naquele ano, viveria até completar 76,6 anos, em média. Porém, à medida que amadurecemos e envelhecemos, a idade até o óbito vai sendo empurrada para frente. Por exemplo, em 2019, uma pessoa com 40 anos viveria em média outros 39,7 anos, ou seja até completar 40 + 39,7 = 79,7 anos. Esse período é chamado expectativa de sobrevida.

Tanto a expectativa de vida como a de sobrevida variam entre localidades e sexo. No Brasil ambos são maiores nas cidades mais desenvolvidas nas regiões sul e sudeste do que no norte e nordeste. Da mesma forma, mulheres vivem mais do que os homens: 73,1 contra 80,1 anos ao nascer em 2019.

A expectativa de vida ao nascer e de sobrevida diminuíram em 2020 devido aos óbitos prematuros provocados pela pandemia. Uma pessoa que foi a óbito com 40 anos, deixou de viver 39,7 anos. Isso é conhecido como anos de vida perdidos. Considerando os dados de 2019, quando a vida era ainda "normal" no Brasil, calculamos a quantidade de anos de vida perdidos em Rio Claro, desde que a pandemia começou. 



Os anos de vida perdidos aumentaram a cada trimestre desde o início da pandemia, exceto entre outubro e dezembro do ano passado, no final da primeira onda. A soma de anos de vida perdidos por covid-19 em 2020 foi de 3.219. Em apenas 3 meses em 2021 já tínhamos praticamente igualado a marca de todo ano passado. Neste trimestre que iniciamos em abril e ainda nem finalizou (os dados de óbito estão atualizados até 14/06/2021), já superamos o recorde do trimestre anterior. Em toda pandemia já perdemos um total de 10.457 anos de vida.

O conceito de anos de vida perdido é utilizado em epidemiologia para expressar as perdas provocadas por morte precoce. Em 2019, Rio Claro perdeu 29.000 anos de vida, ou 6.750 anos em cada trimestre. Este trimestre de abril a junho de 2021, que ainda não terminou, perdemos 60,6% de anos de vida, somente para covid-19. São mortes prematuras que farão falta, no convívio familiar, com amigos, na vida social, cultural do município. 

A vacinação vem poupando os mais idosos, porém, ainda não alcançou adultos de meia-idade nem os mais jovens. Quanto mais jovem for o óbito, mais anos serão perdidos, como vem acontecendo. Tampouco a vacinação foi capaz de conter a cadeia de contágio. O número de casos e gravidade vem avançando muito rapidamente em nosso município. As várias camadas de proteção contra a pandemia vem apresentando falhas cada vez mais evidentes: há aglomerações em ambientes fechados sem uso de máscaras, as medidas conhecidas de proteção vem sendo ignoradas, negadas e quebradas. 

O resultado é que os efeitos da vacinação demorarão mais tempo para serem sentidos. Por enquanto, o preço que pagamos por causa de quem apostou e continua a apostar na imunidade rebanho natural, em Rio Claro foi de mais de 10 mil anos de vida perdidos.

Se alguém pensou em custos econômicos, o PIB anual per capita de Rio Claro é de cerca de R$ 50 mil. Pegue a calculadora e multiplique pelos anos perdidos.... Se você teve a curiosidade: mais de meio bilhões de reais já evaporaram dos próximos anos. É pouco? Lamento, mas ainda vai crescer.



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