Óbitos em físicamente inativos é 2,5 vezes maior do que em ativos. Porém, realizar exercícos em instalações inadequadas, pode anular o benefício
Eduardo Kokubun - UNESP
A falta de atividade física mata. É tão mortal quanto ser fumante, ter obesidade, diabete ou pressão arterial alta. Mesmo conhecendo esses riscos, muita gente não realiza atividade física para proteger a saúde. Cerca de 45% dos adultos que residiam nas capitais brasileiras e Distrito Federal não conseguem cumprir o mínimo recomendado de realizar 150 min de atividade física por semana. Os benefícios de ser fisicamente ativos são inumeráveis em termos físicos, mentais e sociais. Como o problema é mundial, a inatividade física foi reconhecida como uma pandemia em 2012.
O desembarque do Sars-Cov-2 criou uma outra pandemia. O único meio reconhecidamente eficaz de combater a pandemia da Covid-19, além da vacinação, é o distanciamento social. Uma pessoa contagiada vai transmitir o vírus para outro pelas gotículas maiores e menores que expele quando respira. As gotículas maiores alcançam superfícies e se alguém tocá-lá e levá-la ao rosto, o vírus pode invadir seu organismo e derrubar suas defesas imunológicas. Risco maior ainda está nas gotículas menores que flutam pelo ar. Se alguém inspirar este ar, lá vai o vírus se instalar no corpo. Como não dá para parar de respirar, melhor ficar longe do ar alheio, afastando-se de lugar cheio de gente soltando ar dos pulmões. A máscara é recomendada porque vai ajudar a reter grande parte das partículas que chegam em sua direção.
As restrições de circulação atingiram em cheio os locais para prática de exercícios. Um estudo realizado em várias cidades nos EUA mostrou que os locais de prática de atividade física tiveram um grande impacto na disseminação da Sars-Cov-2 (Chang et al, 2021). A aglomeração de pessoas por um período relativamente longo num mesmo ambiente, geralmente fechado e baixa renovação do ar, com equipamentos compartilhados, e o aumento da respiração provocado pelo exercício facilitam a disseminação do vírus pelo ar.
A pandemia do coronavírus acentuou a pandemia da inatividade física. Um estudo realizado no Reino Unido, Nova Zelândia, Irlanda e Austrália mostrou que os impactos das restrições não foram iguais para todos. Pessoas que tiveram redução na atividade física tinham saúde mental e bem-estar piores que aqueles que mantiveram ou aumentaram a prática nos períodos de restrições (Faulkner et al, 2021). Isso confirma o que os especialistas em atividade física vinham alertando sobre a importância de manter o nível de atividade física para a saúde mental e física.
Outra ideia defendida era que a atividade física poderia prevenir ou reduzir a gravidade da covid-19, porque, dentre outros motivos, haveria o fortalecimento do sistema imunológico. Evidencias robustas começaram a ser publicada recentemente.
Cientistas da Coréia do Sul compararam o hábito de atividade física de mais de 6 mil pessoas que tiveram Covid-19 com outros 125 mil que não tiveram a doença até julho de 2020. A chance de adoecer era 1,1 vezes maior e o de morrer era de 2,13 vezes maior naqueles inativos do que em pessoas que cumpriam 150 minutos semanais de atividade física (Cho et al, 2021).
Um centro médico do Sul da Califórnia nos EUA examinou o registro de atividade física de cerca de 50 mil pacientes que se infectaram pelo novo coronavírus. As pessoas inativas tinham chance 2,26 vezes maior de serem hospitalizados e 2,49 vezes maior de morrer do que as ativas. O risco da inatividade física era maior que ter diabete, doença cardiovascular ou obesidade. Os únicos riscos maiores do que a inatividade física eram ter mais de 60 anos ou ter recebido transplante de órgãos (Sallis et al, 2021).
Os dois estudos mostram que a atividade física regular não elimina a covid-19 nem o agravamento da doença. Existe um benefício maior, que o exercício protege contra hospitalizações e óbitos. Porém, isso não significa liberação geral de instalações esportivas. Quem é ativo está ligeiramente mais protegido, mas tem chance quase igual aos inativos de contrair a doença e transmitir aos outros, não importa se é fisicamente ativo ou não. Não se pode combater a pandemia da inatividade física ignorando seus efeitos sobre a pandemia viral. É negar a aparência, disfarçar a evidência.
Para evitar que uma pandemia piore a outra, o melhor seria realizar atividade física em casa, em locais mais abertos, participar de sessões online, ou outras formas que evitem a permanência em locais fechados com muita gente. Essa foi a opção das pessoas que mantiveram ou aumentaram a atividade física nos momentos de restrição estudados pelo grupo de Faulkner e conseguiram manter a saúde mental e bem-estar mais positivos.
Frequentar presencialmente as instalações de atividade física não é recomendável quando a pandemia está elevada. Quando a pandemia estiver controlada, é necessário manter todos os cuidados conhecidos: o ambiente deve ter renovação do ar, usar máscara, manter distância de pelo menos 1,8 m de outras pessoas, higienizar as mãos e equipamentos que tocar, não usar vestiários nem bebedouros, ficar somente o tempo necessário nas dependências.
Chang, S., Pierson, E., Koh, P.W. et al. Mobility network models of COVID-19 explain inequities and inform reopening. Nature 589, 82–87 (2021). https://doi.org/10.1038/s41586-020-2923-3
Cho D-H, Lee SJ, Jae SY, et al. Physical Activity and the Risk of COVID-19 Infection and Mortality: A Nationwide Population-Based Case-Control Study. Journal of Clinical Medicine, 10(7):1539 (2021). https://doi.org/10.3390/jcm10071539
Faulkner, J, O'Brien, W.J, McGrane, B, et al. Physical activity, mental health and well-being of adults during initial COVID-19 containment strategies: A multi-country cross-sectional analysis. Journal of Science and Medicine in Sport, 24(4), 320–326 (2021). https://doi.org/10.1016/j.jsams.2020.11.016
Sallis R, Young DR, Tartof SY, et al. Physical inactivity is associated with a higher risk for severe COVID-19 outcomes: a study in 48 440 adult patientsBritish Journal of Sports Medicine Published Online First: 13 April (2021). doi: 10.1136/bjsports-2021-104080