Avanço da vacinação conteve a onda da Delta. Cenário epidemiológico mudou completamente com a chegada da Ômicron no final de dezembro.
Eduardo Kokubun - Unesp/Rio Claro
A circulação da Ômicron em Rio Claro foi confirmada na segunda-feira 17/01/2022 em amostras coletadas há quase duas semanas, entre os dias 2 e 8 de janeiro. As pistas já estavam por aqui há algum tempo. O Instituto Todos pela Saúde já havia detectado que essa variante circulava pelo Brasil desde o início de dezembro e já era a mais prevalente às vésperas do Natal.
Rio Claro começou o crescimento vertical de transmissão já na semana entre o Natal e Ano Novo. A média móvel de novos casos passou de 4,3 em 27/12/21 para 78 em uma semana, 151,7 na outra e 253,1 em 17/01/22, um aumento de 5.886%. Sim, você não leu errado: mais de 5 mil e 800 %!!! A taxa de transmissão Rt estava em média 0,94. Uma semana depois, no último dia do ano, a Rt saltou para 4,37. Isso significa que uma pessoa infectada passou a contagiar um pouco mais de quatro outras pessoas. No final de primeira semana de janeiro, a Rt alcançou 7,52.
Desde o início de 2021, atravessamos três ondas de variantes: Gamma no primeiro semestre de 2021, Delta no segundo semestre e agora atravessamos a onda Delta.
Durante a onda da Gamma, com a vacinação no início, em Rio Claro houve dois grandes picos de infecções (linha verde no gráfico abaixo), de internações (em linha laranja) e de óbitos (em linha vermelha). O início dessa onda foi marcada por forte sobrecarga hospitalar e também pela falta de oxigênio em Manaus. Naquela onda muita gente que passava por consulta recebia guia de internação.
A chegada da onda Delta coincidiu com o aumento de vacinações (áreas sombreadas em azul-primeira dose, em vermelho a segunda dose ou dose única e em cinza a de reforço). Ao contrário do que ocorreu em muitos países da Europa e América do Norte, os números despencaram, dando a impressão de que a pandemia estava chegando ao fim.
A onda da Ômicron se espalhou feito relâmpago no Brasil, muito mais rapidamente do que a nossa capacidade de confirmar sua presença. O monitoramento genômico do país, muito lento e em quantidade insuficiente, demorou a identificar o desembarque na nova variante. Contudo, os dados divulgados pela Fundação Municipal de Saúde não deixam dúvidas da explosão de casos em Rio Claro que ainda está em progresso. Muito mais gente procurou atendimento médico e lotou as salas de espera. Porém, diferente da onda Gamma, a grande maioria está voltando para casa com receita e atestado sem guia de internação.
Até o momento, a onda da Ômicron provocou uma explosão no número de novos casos. Porém, as curvas de ocupação de leitos e de novos casos se inverteram em relação à onda Gamma. O gráfico abaixo mostra em amarelo que nas ondas Gamma e Delta, para cada 10 casos novos confirmados no dia, havia pouco menos de 20 leitos ocupados em Rio Claro. Essa proporção, por enquanto no inicio desta onda diminuiu para apenas 1. O mesmo ocorre com os óbitos: de cerca de duas mortes semanais por 10 casos diários houve redução para apenas 0,1.
A atual onda Ômicron é indiscutivelmente mais transmissível e ainda deverá continuar a acometer um número muito maior de pessoas. Apesar da explosão do número de casos, internações e óbitos não cresceram na mesma velocidade em Rio Claro, repetindo-se o padrão observado em alguns países onde a variante chegou antes.
Contudo, isso não significa que esta onda Ômicron não seja grave. Com muitas pessoas infectadas, o número total de internações e óbitos pode ainda crescer. Até hoje, 10 infectados num dia levavam a necessidade de um leito. Com 100 infectados, a necessidade aumenta para 10, com 1.000 chegará a 100.
Além disso, a variante Ômicron não está respeitando nem vacinados, nem pessoas já previamente infectadas. Pessoas vacinadas se infectam, embora com menor chance de evoluir para formas mais graves do que quem não se vacinou. Quem se infectou uma vez, pode se infectar outra vez, ao contrário das variantes anteriores onde isso era mais rara.
A atual onda, é importante repetir, continua grave, acometendo muita gente. Ela difere de outras ondas e impõe novos desafios ao sistema de saúde. Na onda Gamma, o desafio era suprir os leitos hospitalares. Na atual onda, o desafio tem sido atender a demanda explosiva de consultas e de testes. Porém, os cuidados para evitar a disseminação da pandemia continuam os mesmos: vacinar com todas as doses necessárias, usar máscaras, manter o distanciamento físico e evitar aglomerações e locais pouco ventilados.
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