sexta-feira, 26 de março de 2021

Desde maio do ano passado, número de leitos aumentou 138% enquanto a necessidade aumentou 302%.

 Eduardo Kokubun, Unesp-Rio Claro


O colapso do sistema hospitalar em Rio Claro e em outros municípios do Brasil ocorre porque o número de doentes que precisam de internação aumentou muito mais rapidamente do que a expansão no número de leitos. 
Desde maior do ano passado até agora, o número de leitos nos hospitais públicos reservados para acolher pacientes com suspeita de covid-19 aumentou de 20 para 67 e nos hospitais particulares de 45 para 88. No total, um aumento de 65 para 155, portanto de 138%. Em maio de 2020, 38 pessoas em média estavam internados. Na semana entre 18 e 25/03 são 153 por dia em média, crescimento de 302%. Em todo esse ano de pandemia, os hospitais trabalharam com certa folga. Mesmo no primeiro pico da pandemia, a taxa de ocupação não ultrapassou 73%. 
As medidas de contenção da pandemia no primeiro semestre foram, portanto, suficientes para evitar o colapso do sistema hospitalar. A segunda onda, que se iniciou em novembro do ano passado chegou com muito mais ímpeto e se agravou em poucas semanas. Entre 25/02 e 25/03 o número médio de novos casos em uma semana aumentou de 38 para 97 (155%). A necessidade de leitos que era de 86 passou para 153 (78%) e de UTI de 35 para 75 (114%). O de óbitos em uma semana aumentou 214% de 7 para 22. 
As duas semanas em fase vermelha e fase emergencial ainda foram insuficientes para conter o avanço da pandemia. Mesmo com as restrições o número de novos casos avançou 73%, muito acima do índice de 15% que marca o aumento da pandemia. Há 30 dias, desde 24/02/2020 Rio Claro vem registrando aumento superior a 15%, acumulando 260%.
O colapso hospitalar pode ser evitado combinando duas estratégias: conter a velocidade da pandemia e aumentar número de leitos. De cada cinco pessoas diagnosticadas com Covid-19 um precisará de internação. A abertura de leitos precisa acompanhar o mesmo ritmo para poder atender No ritmo que está Rio Claro, com quase 100 casos diários, precisaríamos reservar 20 leitos por dia. O problema é que a capacidade de aumentar leitos é finita: além de leitos e equipamentos, é necessário aumentar o número de profissionais.
O remédio de conter o avanço da pandemia com restrição de circulação das pessoas é amargo e somente deve ser acionado em casos extremos. Lamentavelmente, Rio Claro e outros municípios do Brasil atingiram esse extremo. Ele somente será eficaz se houver cumprimento estrito do distanciamento social, com uso de máscara em locais públicos e higienização pessoal. Quanto mais rapidamente conseguirmos conter a cadeia de contágio, mais rapidamente poderemos relaxar as medidas e menores serão os prejuízos, para a renda e para a vida.

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