Baixa imunização, alto risco de transmissão, reinfecção, casos em vacinados e variante delta acendem luz amarela na retomada
Eduardo Kokubun UNESP
Enquanto avança no mundo, no país, no estado e no município as vacinas contra o coronavírus vão cumprindo o que promete: proteger cada uma das pessoas vacinadas. Quem está vacinado corre menor risco de adoecer. Se por azar ou descuido o vacinado ficar doente, mesmo após duas semanas após a segunda dose, terá menos chance de internar ou morrer. Mas quem ainda não está completamente vacinado, não terá o mesmo benefício.
Quando a porcentagem de pessoas completamente vacinadas passar de 30%, espera-se que os benefícios comecem a se estendam a toda população. Com cada vez menos hospedeiros para se alojar e reproduzir, a população de vírus ficará escassa. Se mais de 70% da população estiver completamente imunizada, espera-se dramática redução na epidemia, podendo até se extinguir. Resumindo, quando pouca gente está vacinada, somente os completamente vacinados tem algum benefício: a vantagem é individual. Quando muita gente está vacinada, todos, vacinados e não vacinados se beneficiam: a vantagem passa a ser coletiva.
As medidas não farmacológicas contra a covid-19, como uso de máscaras e distanciamento físico foram e continuam importantes para o controle da pandemia. Elas foram utilizadas antes do início das vacinações para achatar a curva de contágio e reduzir a pressão sobre o sistema de saúde e mortes. À medida que a vacinação avança, vários países começaram a liberar as restrições de circulação.
O Reino Unido revogou todas as medidas de restrição de circulação incluindo a obrigação do uso de máscaras. Os Estados Unidos da América após alguns movimentos de liberação vêem-se obrigados e retroceder na medida de liberação de máscaras e implantam políticas para incentivo à vacinação. O relaxamento das medidas nos países com vacinação mais avançada consideram tanto a cobertura vacinal como a situação epidemiológica: quanto mais pessoas estiverem completamente imunizadas E quanto menor o risco de transmissão menores serão as restrições.
Uma pesquisa publicada no início de junho na revista JAMA Network Open mostrou que a liberação das medidas de não farmacológicas em fases precoces da vacinação podem até provocar repique no número de novos casos, anulando os efeitos da vacinação. Em 29/07/2021, Rio Claro alcançou 25% da população completamente imunizada. Na simulação na pesquisa mencionada, a liberação total com apenas 25% da população vacinada, poderia aumentar o número de casos em 79%, hospitalizações em 76% e de óbitos em até 150% do que sem liberação.
A situação epidemiológica no Brasil ainda é de alto risco de transmissão. Rio Claro cravou ontem a média móvel de 22 novos casos diários, cerca de 266% acima do limite da faixa de baixo risco de transmissão segundo critério da Organização Mundial de Saúde. A vacinação completa de 25% ainda está distante dos 70% necessários para a imunidade coletiva. Temos a variante delta, com grande transmissibilidade e requer duas doses de vacina para os nossos antianticorpos manterem a capacidade de neutralizá-la. Além disso, ela se mostrou capaz de se transmitida mesmo em vacinados. Com 6 meses de vacinação no país, é cada vez mais frequente a ocorrência de casos, reinfecção, hospitalizações e até óbitos em imunizados.
A retomada de atividades nesse cenário deve ser colocada no prato dos riscos na balança dos riscos e benefícios. Temos sim que redobrar os nossos cuidados com os pilares da proteção não farmacológica: distanciamento físico, uso de máscaras, ventilação e manutenção de bolhas de proteção. Caso contrário, a invés de coroas de natal podemos ter coras de velório.