Em dois anos o 60% da população adotou o uso de máscaras e 73% se vacinaram. Circulação aumentou 11%.
Eduardo Kokubun. Unesp-Rio Claro
Distanciamento físico, uso de máscaras e vacinas são os meios mais conhecidos para conter a Covid-19. O gráfico mostra como essas medidas foram adotadas pela população brasileira durante os 24 meses da pandemia.
Em vermelho, temos o número de casos registrados mensalmente no Brasil. A linha branca representa a porcentagem de residentes no Brasil que utilizam máscaras, conforme levantamento realizado pelo Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington/EUA. Como indicador do isolamento, representado pela linha amarela, foi utilizada a média do relatório de mobilidade da comunidade do Google, que mede a variação em porcentagem de deslocamentos em localidades como supermercados, lazer, estações de transporte, trabalho, residência e outros: valores positivos indicam que as pessoas ficaram mais isoladas, reduzindo deslocamentos. A linha azul representa a porcentagem de pessoas que tomaram alguma dose de vacina contra a Covid-19 (Our World in Data).
Os dados mostram três ondas de contágio: a primeira que ocorreu até outubro de 2020, a segunda até dezembro de 2021 seguida de uma terceira onde nos encontramos no momento.
A chegada dos primeiros casos no Brasil em março de 2020 é marcada pela adoção de medidas de isolamento que alcançou um pico de 39% em abril do mesmo ano. O uso de máscaras cresceu mais lentamente, alcançando cerca de 75% da população em abril de 2020. Após o primeiro pico de casos em agosto de 2020, os comportamentos de proteção diminuíram.
A segunda onda foi mais prolongada do que a primeira e o aumento no número de infecções foi acompanhado por ligeiro aumento no uso de máscaras e isolamento. A chegada e avanço da vacinação marcam um refluxo no isolamento: após um pico de isolamento de 23% em março de 2021, a circulação de pessoas aumentou e passou a ser maior que aquela observada antes da pandemia em agosto de 2021. O uso de máscaras, embora tenha oscilado durante a segunda onda manteve-se elevada em cerca de 64%.
O Brasil entrou na terceira e mais recente onda provocada pela variante ômicon com mais de 77% da população com pelo menos uma dose de vacina. Neste curto tempo com explosão de casos não houve mudança substancial nem no uso de máscaras (58%), nem no isolamento (-11%). O final deste segundo ano da pandemia é marcado, portanto, com uma parcela significativa da população vacinada (83% com vacinação iniciada e 73% completa) e adotando uso de máscaras (59%) que reduziu o risco da maior circulação de pessoas do que no início da pandemia (11%).
Com casos despencando, baixo nível de hospitalizações e óbitos em relação às ondas anteriores, governos em diversos países, estados e municípios, no Brasil inclusive, vêm flexibilizando as restrições como a obrigatoriedade do uso de máscaras, limites na ocupação de ambientes. Porém, flexibilização não é sinônimo de fim da pandemia. O vírus continua a circular em várias localidades do mundo sofrendo mutações com consequências ainda imprevisíveis. As flexibilizações precisam ser graduais e seus impactos acompanhados continuamente para calibrá-las corretamente.
The Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME). Covid-19 Projections. Disponível em https://covid19.healthdata.org/brazil?view=mask-use&tab=trend. Acesso 09/03/2022.
Google. COVID-19: Relatórios de Mobilidade da Comunidade. Disponível em https://www.google.com.br/covid19/mobility/. Acesso 09/03/2022.
Our World in Data. Coronavirus Pandemic (COVID-19). Disponível em https://ourworldindata.org/coronavirus. Acesso 09/03/2022.
O vírus insiste em circular entre nós com facilidade para encontrar um hospedeiro, enquanto a população, sem vislumbrar o fim do pesadelo, decreta, por conta própria, o fim da pandemia. Sem ação coordenada das partes envolvidas, poder publico, sociedade organizada, passaremos um longo período sob tensão desse pisca-pisca de abrir e fechar a atividade econômica de olho na luz amarela dos leitos em hospitais. (Nem pico, nem platô: a estratégia nem-nem contra a covid-19. BAC 25, 26/06/2020 https://sites.google.com/unesp.br/boletim-anti-covid-19/ed_anteriores/bac-25-26062020#h.4w6n5n4pz8r)