quarta-feira, 16 de março de 2022

Preferência política e impacto nas mortes por Covid-19

Adilson Roberto Gonçalves
IPBEN Unesp Rio Claro

O negacionismo científico tem sido combatido diuturnamente não apenas nos meios acadêmicos, mas também pelos veículos de comunicação sérios e instituições públicas e políticas. Em especial, com a advento da pandemia do Sars-Cov-2, dois anos atrás, ficou crítica a questão dos que, primeiramente, não acreditavam na existência de um vírus tão letal e, posteriormente, propagaram a utilização de medicamentos ineficazes no combate à doença, desconsiderando a necessidade de distanciamento social, isolamento e uso de máscaras. Por fim, vimos ainda uma nova onda negacionista dos que eram - e ainda são - contra a vacina, mesmo comprovada sua eficácia e segurança.

Sabíamos que havia uma correlação muito estreita entre o negacionismo e escolhas políticas recentes no Brasil, pois a dimensão dos discursos anti-científicos não era condizente com o histórico de adesão à vacinação que nossa população sempre teve. A onda negacionista tinha - e ainda tem - um viés de adesão a uma linha política específica.

A revista The Lancet publicou nesta semana um artigo de pesquisadores brasileiros que, de forma independente, analisaram os dados de mortalidade de todos os municípios de nosso país pela Covid-19, procurando correlações com a escolha eleitoral no pleito de 2018, especificamente se os eleitores daquela cidade votaram ou não no atual presidente Jair Bolsonaro (veja o artigo no original em inglês aqui: https://www.thelancet.com/journals/lanam/article/PIIS2667-193X(22)00038-2/fulltext#seccesectitle0022).

O trabalho é profundo e complexo, pois são avaliados também outros fatores, tais como a dimensão de municípios para comparação e o IDH de cada um. A conclusão principal é que os municpíos que votaram majoritariamente a favor do então candidato Bolsonaro foram os que tiveram as piores taxas de mortalidade pela Covid-19, principalmente durante a segunda onda da epidemia em 2021. Os autores analisaram todas as ondas e flutuações de mortalidade e as correlações são bastante robustas, feitas por ferramentas estatísticas detalhadas no artigo.

A mistura de questões epidemiológicas com opinião política leva a uma insegurança sanitária para além de padrões da dinâmica de populações ou da mobilidade dos vírus. A análise científica dessa combinação é relevante, ainda mais que teremos neste ano novas eleições para cargos majoritários, presidente e governadores aí incluídos. 

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