terça-feira, 19 de outubro de 2021

Emoções finais na CPI da pandemia

Adilson Roberto Gonçalves
IPBEN Unesp Rio Claro

Por seis meses acompanhamos os depoimentos e oitivas - e não raras vezes o silêncio - na Comissão Parlamentar de Inquérito da pandemia instalada no Senado Federal. A partir da constatação do negacionismo oficial em não reconhecer a gravidade da pandemia, os senadores passaram a investigar os contratos para a compra de vacinas, o uso de medicamentos com ineficácia comprovada contra a Covid-19 até chegar em experimentos médicos e clínicos feitos com pacientes à sua revelia. A população assistiu às sessões transmitidas por redes sociais e pela televisão com atenção semelhante à dedicada a séries e filmes. A realidade substituiu morbidamente a ficção como entretenimento.

Foram estabelecidos vários núcleos que articularam as ações criminosas que serão investigadas, esperamos, a partir da conclusão dos trabalhos da CPI. Creio que os núcleso mais significativos sejam o político, o médico, o financeiro-empresarial e o de manipulação e distorção da informação. Muita gente morreu de covid porque foi induzida a usar tratamentos ineficazes e não seguir as recomendações científicas seguras quanto a isolamento, distanciamento, uso de máscaras, higienização e, mais recentemente, vacinação.

A finalização da CPI se dá pela leitura e votação do relatório. Há interesses políticos também daqueles que buscaram a verdade sobre o que aconteceu na mais séria crise sanitária pela qual passamos, o que está trazendo ruído e até falam em rompimentos na etapa final da CPI. A condução dos inquéritos pelo relator, senador Renan Calheiros, nem sempre foi pacífica, o que leva a rotular o resultado final de "Renantório". A leitura do relatório, espera-se que fruto de acordos no detalhamento dos crimes praticados e pessoas a sererm indiciadas, ficou para esta quarta-feira, 20 de outubro.

O programa Roda Viva de segunda-feira, 18 de outubro, entrevistou dois desses senadores atuantes na CPI, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Fabiano Contarato (Rede-ES). Eles não são membros, ou seja, não têm direito a voto, mas desempenharam papel fundamental na explicação da legislação e de procedimentos investigativos. Contarato se destacou por ser delegado de polícia e teve um protagonismo importante no combate a crimes de homofobia e racismo praticados por depoentes. Na entrevista, ambos apresentaram divergências quanto a imputação de certos crimes e indiciamentos no relatório final da CPI, mas concordaram quanto à responsabilização do governo federal e pessoas e órgãos a ele ligados.

Parentes de vítimas da Covid-19 deram emocionantes depoimentos também nesta segunda-feira, penúltima reunião da comissão, coincidente com o Dia do Médico (https://legis.senado.leg.br/comissoes/reuniao?0&reuniao=10320). A jovem Giovanna que perdeu mãe e pai e tem agora que cuidar de uma irmã de 11 anos levou todos às lágrimas, incluindo o tradutor de libras que não pôde continuar a tradução. Rostos e histórias foram dados às mais de 600 mil pessoas que a covid-19 levou. Que além do luto possamos ver alguma justiça sendo praticada. 

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