quarta-feira, 27 de outubro de 2021

As palavras foram ciência e vacina no fechamento da CPI

Adilson Roberto Gonçalves
IPBEN Unesp Rio Claro

Ao menos o encerramento da CPI da pandemia no Senado Federal coroou a ciência. A 69a. reunião em que o relatório final foi avaliado e aprovado fez grande uso da ciência, defendendo-a como uma das razões principais para que a comissão fosse instalada. Pela transcrição da fala dos senadores (https://www25.senado.leg.br/web/atividade/notas-taquigraficas/-/notas/r/10342), ciência foi mencionada 37 vezes, em comparação com 14 vezes das menções à máscara e 15 vezes oxigênio. Eles falaram 27 vezes sobre negacionismo ou negacionista, número quase idêntico ao de menções à cloroquina (28), ainda presente em falas obscurantistas, como a da defesa que fez o senador Luis Carlos Heize.

O placar final pela aprovação do relatório já se sabia de antemão (7 x 4), com a característica política que tais comissões possuem. O seguimento das ações e indiciamentos apresentados no relatório final é que dará o tom da seriedade com que os demais órgãos da República lidarão com a tragédia da pandemia no Brasil.

Mas um assunto superou a ciência. Por 135 vezes foi pronunciada a palavra vacina naquela derradeira reunião, como não poderia deixar de ser, uma vez que um dos focos da investigação foi, primeiramente, a indisposição do governo federal em adquirir vacinas e promover a imunização da população. Depois, descobriu-se que houve tratativas de contratos bilionários superfaturados para que intermediários se beneficiassem da aquisição de doses que passaram a ser fabricadas, importadas ou disponibilizadas por meio de consórcios internacionais.

Hoje superamos a metade da população completamente vacinada graças em parte às denúncias que a CPI trouxe, evitando o superfaturamento na aquisição de doses de imunizante e forçando o avanço do programa de imunização. Mas é triste saber que houve o uso de cobaias humanas para aplicar medicamentos que não são eficazes para a Covid-19.

Não se poderá ficar agora apenas nas palavras ali ditas e escritas.

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