Um comentário ao artigo do professor Carlos Magno Fortaleza
Adilson Roberto Gonçalves
Unesp Rio Claro
Um desabafo, um grito de socorro. Assim é o texto angustiante que o professor Carlos Magno Fotaleza publicou na Folha de S. Paulo nesta sexta-feira, 5 de março de 2021 (https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/03/e-preciso-continuar-nao-consigo-continuar-eu-vou-continuar.shtml), às vésperas do Estado de São Paulo entrar na fase vermelha, a mais restritiva no combate à pandemia do novo coronavírus.
O professor Fortaleza faz uma analogia com o teatro do absurdo exemplificado por Samuel Beckett e sua obra de 1953, O Inominável, e dela tira as frases finais para seu título, aqui em inglês: I can't go on, I'll go on.
A leitura é angustiante, revelando o nível de esgotamento a que chegaram todos os que estão no combate à pandemia, quer seja na linha de frente, quer seja nos laboratórios de pesquisa estudando o processo e buscando soluções. Um contraponto com a necropolítica oficial que não apenas se abstém, mas age contrariamente aos reais esforços.
Um outro autor vem à lembrança, representante do realismo teatral, anterior a Beckett. Henrik Ibsen escreveu Um inimigo do povo em 1882 contando a história de um médico que descobre que a água da cidade, que é um balneário, está contaminada pelos dejetos de uma indústria. Ao tentar denunciar o problema de saúde pública é impedido pelos citadinos, desde os mais humildes até a casta política que comanda a cidade. Os argumentos são que a economia da cidade baseada no turismo entraria em colapso e transformar o médico no inimigo do povo, título da peça. Revela-se, portanto, a produção de uma mentira generalizada que passa a ser verdade pela vontade da maioria. Qualquer semelhança com o negacionismo atual não é coincidência, dando mérito à máxima de outro filósofo de que a história sempre se repete. A farsa atual já nos custou mais de 260 mil vidas e diariamente estamos nos aproximando do número total de mortos que um dos representantes do governo havia previsto. A diferença é que ele falou em 2100 mortes no total, e desse valor nos aproximamos em mortes diárias.
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