Eduardo Kokubun, Unesp
Rio Claro, junto com os outros municípios do Departamento Regional de Saúde de Piracicaba, experimentaram, em uma semana, um relaxamento seguido de um duro endurecimento nas fases do Plano São Paulo. Isso ocorre mesmo com aumento vertiginoso no número de leitos na região. A disponibilidade de leitos UTI exclusivos para Covid saltou de 8,5 100 mil habitantes em 13/06/2020 para 22,8 em 04/03/2021.
O BAC vem alertando sobre o recrudescimento abrupto da pandemia no município. Na edição de 23/02/2021, alertávamos:
"A escalada na ocupação de leitos pode vir muito rapidamente, porém sem nunca da algum sinal". Mais adiante, constatávamos que em fevereiro o número de reprodução Rt, após uma ligeira redução para baixo de 1, quando o número de novos infectados diminui, voltou a crescer. Era necessário "derrubar o número de casos diários de horríveis 80 casos médios diários para 11".
No dia 26/02, quando o DRS de Piracicaba progrediu para a fase amarela, Rio Claro atingia o maior número de internações de toda pandemia. Naquele dia, o Rt alcançou 1,69, ante 0,98 uma semana antes.
Consideramos "inusitada" a progressão para a fase amarela num dos piores momentos da pandemia, no BAC de 02/03. Destacamos que os critérios vigentes do Plano São Paulo, não conseguiam capturar a velocidade do avanço da pandemia. "Sem reduzir substancialmente o número de novos casos, não há como reduzir as consequências: internações, ocupações de leitos e óbitos". Nesse dia, Rio Claro atingia 100% de ocupação de leitos por COVID.
A forte aceleração da pandemia, e o iminente colapso no sistema de saúde, que só não ocorreu ainda porque houve rápida ativação de novos leitos no município, levou a Unesp a manifestar publicamente sobre o agravamento da pandemia. Aponta o documento "que as medidas de mitigação da pandemia no município estão pouco eficazes". "Não resta ao município outra opção senão, no curto prazo, tomar medidas enérgicas e imediatas para minimizar as perdas das vidas que decorrerão da pandemia". No mesmo dia do comunicado, em 03/03/2021, o Governo do Estado anunciou a aplicação da fase vermelha a partir deste sábado 06/03.
A piora da pandemina e sobrecarga no sistema de saúde não é exclusiva de Rio Claro. Ocorre em todo Estado de São Paulo em no Brasil. Já apontamos que Rio Claro teve êxito parcial em reduzir a pandemia. Parcial porque teria que ter conseguido um pouco mais. No momento menos pior entre as duas ondas em 07/11/2020, Rio Claro tinha 60 casos ativos com Rt de 0,7: as 60 pessoas que pegaram o vírus transmitiram para outras 42, com redução na ocupação de leitos e óbitos.
A situação de 03/03 é muito diferente. Havia 560 casos ativos, 9,3 vezes maior. Com Rt de quase 2, esses já infectaram ou infectarão outras 1.120, 26,7 vezes maior do que o valor de 07/11/2020. É uma avalanche de novos casos, tal como o estouro da barragem de Brumadinho. O desastre ocorreu, provocou fatalidades imediatamente como vimos nos vídeos à época. Mais adiante da barragem, alguns ainda conseguiram escapar. Porém, àquela altura, o colapso da estrutura já ocorrera. O colapso não é do sistema hospitalar sem falta de leitos agora ou em futuro próximo. O colapso ocorreu há tempos, com as fissuras provocadas pelo relaxamento de medidas protetivas individuais e coletivas, e terminaram por solapar a barragem contra a transmissão do vírus.
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