José Roberto Gnecco
Presidente do Comitê AntiCovid-19 da UNESP/RC
Está difícil saber verdadeiramente o número de doses disponíveis para vacinar os brasileiros, tendo o ministro da Saúde divulgado em 17/02 aos governadores que serão 363 milhões de doses as vacinas adquiridas aplicáveis aos brasileiros “vacináveis” até dezembro, sendo metade até o meio do ano. Por brasileiros “vacináveis” entende os 158 milhões de brasileiros maiores de 18 anos – como se até bebês não morressem por COVID-19. Como de 17/01 a 07/03 foram vacinados 8 milhões de brasileiros, faltariam só 71 milhões a serem vacinados em 4 meses (https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/pazuello-apresenta-cronograma-para-entregar-230-7-milhoes-de-doses-de-vacinas-contra-a-covid-19-ate-julho). Será que será assim?
As manchetes dos jornais são sempre otimistas para nos tranquilizar, mas se confiarmos no que as autoridades dizem e a mídia repete já teríamos 1 bilhão de vacinas. Na situação em que estamos, isso não ocorre só por má fé ou ingenuidade, mas porque cada vez que uma autoridade fala em comprar, contratar, fabricar, produzir, etc., uma vacina, ela repete isso 10 vezes e a mídia repete isso mais 10 vezes para cada uma. Como separarmos quantas doses serão realmente aplicadas do número de vezes que a mesma notícia é repetida pela mesma autoridade ou por outra autoridade ou mesmo apesar de ser divulgada como excelente notícia é totalmente impossível de ser obtida porque não se tem dinheiro, tempo ou tecnologia – ou vontade política porque se é contra - para tanto?
Dessa forma, como as vacinas ou seus insumos vêm do exterior, melhor seguir as chegadas dos mesmos nos aeroportos, à semelhança dos anos 1950 na aviação quando era notícia a lista de passageiros que partiam ou chegavam do exterior, pois a mídia publica a chegada dos insumos e, ao se confrontar os dados de cada notícia a partir de diferentes fontes, pode-se identificar “quantas vezes chegaram”, na verdade, os mesmos insumos...
Estes são os números reais de doses que chegaram até agora:
Como as vacinas demandam duas doses para imunização, de 17/01 ao final de março poderão ser imunizados 23,21 milhões de brasileiros, isto é, 14% dos 158 milhões de brasileiros maiores de 18 anos que o ministro chama de “vacináveis”, pois com a chegada dos insumos serão produzidas vacinas aplicáveis no mês seguinte, se tudo funcionar.
Linha do Tempo:
- Em agosto de 2020, o Governo Federal pôde reservar 130 milhões de doses da Coronavac e da Pfizer para entrega a partir de novembro de 2020 e nada fez (https://piaui.folha.uol.com.br/bolsonaro-recusou-tres-ofertas-de-vacina/; https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/01/reconhecimento-de-recusa-de-oferta-da-pfizer-amplia-criticas-a-atuacao-de-bolsonaro-na-pandemia.shtml).
- Em 11/12/2020, a mídia internacional divulga “que governo pretende confiscar vacina dos estados” (https://www.dw.com/pt-br/aliado-de-bolsonaro-diz-que-governo-pretende-confiscar-vacina-dos-estados/a-55913159).
- Em 15/01, o Governo Federal exige as vacinas compradas pelo Estado de São Paulo.
- Em 17/01, só após este Estado condicionar o repasse das doses da mesma ao Governo Federal à convocação da reunião da Anvisa para discussão da vacina, esta autoriza o uso das 10,62 milhões de vacinas armazenadas em São Paulo desde 19/11/2020.
- Em 22/01, só após o Estado de São Paulo vacinar em 17/01, o Governo Federal compra 2 milhões de vacinas AstraZeneca prontas na Índia.
- Em 11/02, o ministro da Saúde comunica que o Brasil fabricará e exportará vacinas para a América Latina.
- Em 17/02, o ministro da Saúde promete 363 milhões de doses em 2021 e 230 milhões até o meio do ano para que todos os brasileiros vacináveis sejam vacinados até dezembro e metade destes até junho.
- Em 19/02, o ministro da Saúde determina que os brasileiros sejam vacinados somente com a 1ª. dose, voltando atrás em 23/02.
- Em fevereiro, a Fiocruz compra 15 milhões de insumos, mas ainda não tem produção própria. Portanto, a única vacina que o Brasil tem hoje é a Coronavac e se forem usadas agora as 4 milhões de doses da AstreZeneca compradas prontas, por enquanto, não haverá a segunda dose para os maiores de 80 anos que as receberam – meus pais, por exemplo
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