terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Ciência e ficção: o vírus pode ter chegado em Marte?

Adilson Roberto Gonçalves

Unesp - Rio Claro

Em A Guerra dos Mundos, H.G. Wells contou a invasão marciana ao nosso planeta, que acabou sendo controlada apenas pelos microrganismos aqui existentes, pois os seres do planeta vermelho não teriam sistema imunológico para deles se defender. Os seres mais antigos do planeta de certa forma nos salvaram; os humanos tiveram tempo suficiente para criar seus anticorpos e os marcianos, não.

Filmes baseados nesse clássico livro de ficção científica de 1898 tiveram sucesso em diferentes públicos, mas no Halloween de 1938 a história foi levada ao ar por um programa de rádio dos Estados Unidos, na voz de Orson Welles. A dramaticidade e a omissão de se tratar de uma leitura ficcional foram criticadas, pois pessoas acreditaram ser aquilo realidade. Houve quem fugiu ou até tenha se matado depois de ouvir que o mundo estaria se acabando. No entanto, mais recentemente, estudos mostraram que esses casos relatados podem ter sido exagerados. Porém, é prova de que a crença compete com os fatos há um bom tempo. Não por menos, Orson Welles se tornaria um dos maiores diretores cinematográficos e seu Cidadão Kane, de 1941, considerado o melhor filme de todos os tempos. Woody Allen retratou a passagem da leitura de A Guerra dos Mundos em seu filme Radio Days (A Era do Rádio, de 1987), que vale ser assistido por retratar aquela época e também pela interpretação de “Tico-tico no fubá” da atriz brasileira Denise Dumont.

Na última quinta-feira, 19/2, o Perseverance chegou em solo marciano. Transmitido ao vivo pela Nasa e por inúmeros canais da internet, vimos os momentos de tensão da aproximação e entrada na atmosfera, os sete minutos de terror, pois não são recebidas leituras de telemetria devido à forte interferência causada pelo atrito da cápsula. A operação foi para colocar lá mais esse robô que obterá informações do solo em uma região formada por sedimentos, na qual, provavelmente, havia um enorme lago e um rio que nele desaguava em foram de delta. Detalhes da missão e de sua importância podem e devem ser acompanhados. Fortemente recomendado é o Blog Mensageiro Sideral, do Salvador Nogueira https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/

Haveria microrganismos neste solo? Poderiam as amostras serem contaminadas com eles e nos atacar, como na ficção? A viagem por 460 milhões de km no espaço seria suficiente para a destruição desses seres vivos ou o DNA poderia ser uma molécula resistente? Da mesma forma, poderíamos estar levando a nossa microbiota para outros mundos? O coronavírus pode ter chegado em Marte?

O contraponto da ciência de ponta com a ficção, a crença naquilo que se ouve sem comprovar se é verdade ou não e teorias conspiratórias de que tudo tem um propósito ou um fim trágico são bem representativos do momento pelo qual passamos. Em plena pandemia, com ondas de contaminação mais fortes e a prevalência de uma cepa do coronavírus mais resistente e transmissível, ainda relutamos em não acreditar na higienização, no uso de máscaras, no distanciamento, no rastreamento, na imunização.

Coçamos a cabeça, com a certeza de que não é piolho.


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