Adilson Roberto Gonçalves
IPBEN - Unesp Rio Claro
Cumprindo nossa função de esclarecer a população sobre a importância da vacina, entrevistamos em 13/1 o professor Osmar Malaspina, do Departamento de Biologia Geral e Aplicada, Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro. Como servidores da Unesp, professores e pesquisadores, temos a obrigação de divulgar conhecimentos seguros e refutar as informações falsas.
A entrevista foi uma aula sobre a história e os fundamentos das vacinas, com destaque para as técnicas modernas em que se baseiam os imunizantes desenvolvidos para a prevenção ao novo coronavírus.
Ele destacou a importância da vacina e da vacinação, primordiais para a preservação e salvação de vidas. No combate aos negacionistas da ciência, precisa ficar claro que três instrumentos da saúde são resultados de pesquisas científicas: anestesia, antibióticos e vacinas. Desses, a vacina é o mais antigo, descoberta há mais de 200 anos, atestando sua segurança ao longo do tempo, sendo responsável por nossa sobrevivência e aumento da expectativa de vida.
Na apresentação, o professor Malaspina disse que 160 laboratórios no mundo estão trabalhando no desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus, sendo cerca de 20 no Brasil. Infelizmente, a previsão é que as vacinas aqui desenvolvidas somente estejam disponíveis em 2022. Ele ressaltou o recorde no tempo de desenvolvimento das vacinas, menos de um ano. Até então o tempo mínimo era de 4 anos para a caxumba, apresentada em 1967, mais de meio século atrás. A ciência continuou a estudar e desenvolver vacinas. A tecnologia se aprimora. Os movimentos anti-vacinas também são frequentes em nossa história, como o que está acontecendo agora.
Foram apresentados os 4 tipos principais de vacina desenvolvidos contra o coronavírus: a) com vírus atenuado (Coronavac e todas as contra a gripe são desse tipo); b) de RNA (Pfizer e Moderna), com mais de 90% de eficácia, porém mais cara; c) vetorial com vírus modificado geneticamente; e d) as que usam e se baseiam em proteínas. Em todas elas haverá a entrada de um corpo estranho em nosso organismo que produzirá anticorpos para a defesa.
Igualmente, as diferentes fases até se chegar à imunização em massa foram apresentadas e detalhadas. Malaspina ressaltou que os voluntários nesses testes não podem ser remunerados. Foram 100 mil voluntários testados, com relatos de efeitos colaterais muito pequenos, comuns em qualquer vacina, sem registro de mortes.
Quanto às dúvidas sobre número de doses, o professor Malaspina esclarece que uma dose já confere alguma imunização, mas o melhor são duas, respeitando o que foi evidenciado nos estudos. Porém, não há informação sobre o tempo que dura a imunização, pois precisamos esperar alguns meses para saber. Algumas vacinas, como a da febre amarela, são tomadas uma vez na vida. A da gripe, não. A notícia da eficácia global da Coronavac de 50,3% acabara de ser noticiada e o professor Malaspina ressaltou que é um resultado muito bom, lembrando que as vacinas contra a gripe têm eficácia de no máximo 60%. Não cabem, portanto, as falas infundadas dos detratores da vacina.
Respondendo a perguntas enviadas, Malaspina disse que não há limitações para tomar vacina quem está em tratamento oncológico e os que têm doenças autoimune, em relação à vacina feita à base de vírus inativado - como é o caso da Coronavac -, a menos que seja muito próximo à administração de imunodepressores. Nesse caso, a pessoa deve consultar seu médico para saber quando pode tomar a vacina. Situação idêntica para grávidas e crianças, apesar de não ter havido estudos específicos para esses grupos. O professor Malaspina alertou que, na dúvida, sempre deve-se procurar o pediatra ou o médico que esteja acompanhando a gravidez para esclarecer eventuais limitações. Esses grupos não são prioritários nesse momento inicial da vacinação, dando-se preferência aos idosos e aos profissionais da saúde que estão na linha de frente no combate à pandemia.
Nessa etapa inicial, as duas doses da vacina devem ser tomadas do mesmo fabricante por não haver estudos sobre algum impedimento que possa haver em tomar de fabricantes diferentes.
Por fim, Malaspina destacou que a vacinação é um dever coletivo e poderá ser compulsória em algumas situações, como a de viajar para outros países. Lembrou a possibilidade de empresas exigirem de seus funcionários que se vacinem para permanecer no emprego, evitando o risco maior ao grupo que trabalha junto. Segundo ele, as crianças somente poderiam ir à escola depois de vacinadas.
Cabe mais uma vez ressaltar que, mesmo com o início da vacinação, as medidas para conter a propagação do vírus são o distanciamento social, o uso correto da máscara e a constante higienização de mãos e dos objetos com que se tenha contato.
A entrevista completa pode ser vista no canal Youtube do Diálogos Unesp Rio Claro.