GEOPARQUE CORUMBATAÍ
Um projeto para mudar a realidade de nossa região
IGCE/UNESP
Um geoparque é uma área territorial com limites claramente definidos, que inclui notáveis patrimônios geológicos, paleontológicos, geomorfológicos e espeleológicos, associados a uma estratégia de desenvolvimento sustentável, dando destaque à proteção e divulgação dos valores naturais, históricos (incluindo arqueológicos) e culturais da região. Deve possuir um conjunto de sítios de importância internacional, nacional ou regional, que permitam contar a história natural e de ocupação da região. Esses sítios são denominados geossítios e devem possuir valores científicos, estéticos e educacionais.
O geoparque promove uma ressignificação do território onde é implantado, fazendo aflorar um sentimento de pertencimento na população que habita a região, que também aprende a valorizar o seu patrimônio. Além disso, favorece, em muitos aspectos, o desenvolvimento sustentável e comunitário, indo ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU em sua agenda 2030.
A UNESCO iniciou este projeto mundial de criação e certificação de geoparques mundiais em 2001 (Global Geoparks Network – GGN - https://globalgeoparksnetwork.org/), ratificado em 2015 (Unesco Global Geoparks – UGGp - https://en.unesco.org/global-geoparks). Atualmente, existem169 geoparques em 44 países (maiormente na Ásia e Europa). Na América do Sul, são apenas dois geoparques Unesco estabelecidos: um no Brasil (o mais antigo do continente - 2006, o Geopark Araripe, no Ceará - http://geoparkararipe.urca.br/) e o Geoparque Grutas del Palacio (no Uruguai – 2013 - https://www.geoparque.uy/). Ao todo, atualmente, 37 novos projetos com proposições de criação de geoparques estão em desenvolvimento no Brasil. O nosso Geoparque Corumbataí é um deles.
Podemos dizer que a história da criação do Geoparque Corumbataí remonta a 1996, quando a Profa. Dra. Mariselma Ferreira Zaine (esposa de nosso colega Prof. Dr. José Eduardo Zaine, do Departamento de Geologia) concluiu o seu estágio de pós-doutorado no IGCE, com patrocínio do CNPq, sob a supervisão do saudoso Prof. Dr. Vicente José Fulfaro, intitulado “Patrimônios Naturais da Bacia do Corumbataí”. Como produto final, além do relatório, a Dra. Mariselma apresentou um importante mapa pictórico (Figura 1), com a distribuição dos municípios (Analândia, Charqueada, Cordeirópolis – na época não incluído, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Piracicaba, Rio Claro e Santa Gertrudes) e dos principais sítios dos patrimônios identificados na bacia do rio Corumbataí. Consideramos este mapa como “histórico” e mola propulsora do atual projeto de implantação do Geoparque Corumbataí.
Em fevereiro de 2016, por iniciativa dos colegas do Consórcio dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), um grupo do IGCE/UNESP (professores J.E. Zaine, Alexandre Perinotto e o estudante de Geologia André Kolya) reuniu-se na sede do PCJ em Piracicaba juntamente com a Dra. Mariselma Zaine, a Profa. Dra. Luciana Cordeiro de Souza Fernandes (da FCA/Unicamp, Limeira) e os colegas do PCJ (Francisco Lahoz e Flávio Stenico) para dar os passos iniciais para a criação e implantação do Geoparque Corumbataí.
A partir dessa data, foi estabelecido um planejamento de visitas a todas as prefeituras dos municípios da bacia. Essas atividades tiveram o crucial apoio da Administração do IGCE e todos os prefeitos e secretários afetos ao tema foram contatados e as visitas realizadas. A essas foi dado o nome carinhoso de “caravana Geoparque”. Em cada visita, previamente acertada com as prefeituras, participaram autoridades, entidades da cidade visitada, e interessados no assunto. Apresentações foram realizadas pela equipe da “caravana” e por pessoas designadas pelos prefeitos, relatando o que a cidade entendia como patrimônios naturais, históricos e culturais a serem preservados e visitados, já que o turismo (na essência de um Geoparque) é a mola metra para impulsionar o desenvolvimento regional e sustentável. Proprietários e administradores de sítios naturais que recebem turistas nas diferentes cidades também participaram dos eventos, mostrando o que consideravam importante para incrementar as atividades turísticas.
Figura 1: Mapa pictórico da bacia do rio Corumbataí, abrangendo áreas parciais ou totais de nove municípios: Analândia, Charqueada, Cordeirópolis – na época não incluso, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Piracicaba, Rio Claro e Santa Gertrudes. Autora: Zaine, M.F. (1996)
Nessas visitas (“caravana”), pontos fundamentais, sempre reforçados, eram apresentados de forma muito clara e objetiva. Ou seja: um Geoparque...
• PROMOVE o desenvolvimento socioeconômico regional;
• PROMOVE sustentabilidade NATURAL e resgata, valoriza e preserva a CULTURA;
• NÃO se trata de uma Unidade de Conservação;
• NÃO necessita de novas leis;
• NÃO traz regramentos legais específicos para uso da área;
• NÃO exclui atividades estabelecidas e nem os moradores dos locais onde vivem.
Outro ponto essencial apresentado, com base nas experiências mundiais, é a resposta ao questionamento: COMO AVANÇAR PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL? Resposta: com a participação do cidadão, o respeito às diferenças culturais, o planejamento territorial participativo e a proteção do meio ambiente. Para isto, o GEOPARQUE tem se mostrado uma opção de SUCESSO em termos mundiais!
A bacia do rio Corumbataí possui peculiaridades excelentes para a implantação de um Geoparque. Vejamos
POTENCIAL NATURAL:
• Geologia e paleontologia peculiares:
Rochas e fósseis característicos do grande continente Gondwana (cerca de 300 milhões de anos atrás) que demonstram a evolução do planeta e da vida (destaque para o futuro Parque Geológico Municipal de Assistência).
Rochas características: a exemplo dos diabásios e basaltos – rochas magmáticas que atestam um dos maiores magmatismos da história do planeta Terra e a separação dos continentes Sul-americano e Africano, dando origem ao oceano Atlântico. Arenitos do Aquífero Guarani – um dos maiores do planeta Terra.
• Geomorfologia ímpar:
Formações geomorfológicas: morros testemunhos – como o simbólico Cuscuzeiro de Analândia, cuestas, drenagens com cascatas/cachoeiras e corredeiras, paisagens notáveis.
Cavernas e grutas (sítios espeleológicos típicos das encostas da Serra Geral).
POTENCIAL HISTÓRICO:
• Fazendas centenárias, atestando a ocupação do interior do Estado de São Paulo – ciclo do café (casarões – hoje museus) e primeiras migrações europeias e escravidão.
• História da estrada de ferro (antigas estações ferroviárias e FEENA - Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade).
• História da energia elétrica (Usina/Museu Corumbataí).
• História do petróleo (Distrito de Assistência).
• Arqueologia: ferramentas líticas e inscrições rupestres, atestando ocupações humanas de milhares de anos atrás – sítios arqueológicos.
POTENCIAL CULTURAL:
• Festas folclóricas diversas nos 9 municípios, com grupos de tradição.
• Festas sazonais.
• Artesanatos.
• Comidas típicas e tradicionais.
• Fabricação artesanal de cachaça e vinho.
• Museus diversos.
• Casarios.
Além das visitas da “caravana Geoparque”, dois simpósios reunindo prefeitos e autoridades municipais, entidades e moradores dos municípios foram realizados: um no IGCE, em 2017 e o segundo na FCA/Unicamp – Limeira, em 2019.
É importante salientar que para o sucesso desses projetos de implantação de um Geoparque, torna-se fundamental uma efetiva gestão do Turismo para o desenvolvimento SUSTENTÁVEL regional. Para que esta meta seja alcançada devem existir ações mútuas e apoios recíprocos de três elementos fundamentais:
1. Atividades turísticas e Governos Municipais em parceria harmoniosa;
2. Investimento de empresários: parcerias público-privadas;
3. Envolvimento e comprometimento da COMUNIDADE LOCAL e REGIONAL.
Até o momento as ações que merecem destaque no desenvolvimento do projeto Geoparque Corumbataí podem ser resumidas nos seguintes itens:
• Mapeamento e catalogação de 180 geossítios em toda a bacia;
• Reuniões locais com as nove prefeituras;
• Dois simpósios regionais;
• Produção acadêmica: Trabalhos de Conclusão de Curso, Dissertações de Mestrados e produção de materiais lúdico-didáticos;
• Publicações: artigos em eventos técnico-científicos e 3 livros (o terceiro em andamento);
• Um site: http://geoparkcorumbatai.com.br/
• Reunião recente com prefeitos eleitos/reeleitos realizada no dia 17/09/2021 de forma remota.
Em conclusão, os GEOPARQUES tem se mostrado como uma forma de grande êxito para o desenvolvimento sustentável porque derivam de um processo que INCLUI A TODOS, tendo o Turismo (natural, histórico e cultural) como mola propulsora, levando à realização de atividades socioeconômicas sustentáveis, inovadoras e empreendedoras de forma INTEGRADA, beneficiando a TODOS.
A bacia do rio Corumbataí possui grande potencial GEOTURÍSTICO em uma região favorável a diversos segmentos de turismo (natural, histórico, cultural).
Dessa forma, com planejamento INTEGRADO regional e participativo, haverá estímulo ao desenvolvimento socioeconômico sustentável em toda a REGIÃO, alterando sua realidade de forma bastante positiva.