Adilson Roberto Gonçalves
IPBEN Unesp Rio Claro
Em outro 8 de Outubro estávamos nas ruas pedindo mais ciência e mais educação. A data, per se, já é icônica, mas este dia de 2021 começou com a notícia do inédito Prêmio Nobel da Paz a jornalistas: a filipina Maria Resssa e o russo Dmitry Muratov. Pela primeira vez, jornalistas de países que mais assassinam esses profissionais no exercício da verdade e da liberdade de expressão, são premiados pela função que exercem, não pelo ativismo em outras áreas, como ocorreu em anos anteriores. Nos anúncios de laureados da semana, Maria é a primeira mulher.
Porém, a satisfação é contida. A razão principal da láurea é exatamente o trabalho de clarear e checar a informação em tempos tão sombrios que pairam sobre nós. Ambos são sobreviventes e representantes dessa resistência para buscar e entregar a notícia tal como os fatos revelam. Sim, é uma resposta à altura a governos negacionistas como o nosso, mas que a eles pouco dirá. A negação da verdade é a base dos governos de mentira que conduzem.
A manhã daquele dia foi também triste pela morte por Covid-19 do cartunista Nani que ilustrou vários veículos jornalísticos, incluída a edição de aniversário de 15 anos da revista piauí (sempre com a devida inicial minúscula), que propõe uma nova forma de gestão independente do negócio da informação. A ausência de Nani pode ser tomada como a triste marca dos 600 mil mortos pela doença no Brasil, no pêndulo entre luto e luta.
No dia anterior, havíamos conhecido Abdulrazak Gurnah com o Nobel de Literatura. Originário da Tanzânia, sua obra trata da condição de refugiado, do colonialismo, dos abismos entre culturas e continentes e a necessária inserção neste mundo que pouco tolera diferenças e melhorias para todos. Dois prêmios que exemplificam a condição social, política e humanitária do momento.
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