Índice de Segurança do Retorno às Aulas Presenciais alcança média de 56,8% nos estados brasileiros. Protocolos falham em medidas de ventilação, testagem, transporte e ensino remoto.
Eduardo Kokubun. UNESP
O assunto da semana é o retorno das aulas presenciais. Porém, esse retorno não é, ou não deveria ser apenas a abertura dos portões das escolas botando um termômetro, álcool gel e cartazes obrigando o uso de máscaras. O novo normal não se resume a isso. É preciso estar de olho nas evoluções da pandemia e da vacinação e calibrar protocolos adequados aos estágios.
A Rede de Pesquisa Solidária criou um Índice de Segurança do Retorno às Aulas Presenciais (ISRAP) que varia entre 0 a 100 e avaliou as políticas dos estados e respectivas capitais, do Distrito Federal e do Governo Federal. Esse índice atribui pontuação a oito categorias de políticas: transporte, distanciamento, higiene, ensino remoto, máscaras, ventilação, imunização e testagem.
Em 21/06/2021 os estados brasileiros cravaram a média de 56,8 pontos nesse índice. O protocolo de reabertura do estado de São Paulo teve nota de 46,5. Falta muito para alcançar o máximo de 100 potos. O estudo também aponta que as políticas de biossegurança do Governo Federal são menos rígidas do que a maioria dos protocolos estaduais e municipais: cravou 40,6 pontos, ficando à frente de apenas 3 estados!
As categorias com menores pontuações foram encontradas em ventilação, testagem, transporte e ensino remoto. As políticas falham em reconhecer que a transmissão do vírus é principalmente aérea, dando ênfase à compra de termômetros ou higienização de superfícies, consideradas pouco eficazes nas diretrizes internacionais mais recentes. Faltaram recomendar abrir janelas, limpar ar-condicionado, monitorar a qualidade de ar e aconselhar aulas em locais abertos quando possível.
A baixa pontuação em testagem ocorreu porque os protocolos falham em prever a busca ativa de contatos, testagem de contatos, isolamento em segmentos de alunos e profissionais. Saber onde o vírus se dissemina e isolar os focos dos surtos foi e continua sendo uma das medidas mais importantes repetida à exaustão: testar, testar, testar. Os protocolos também falham em não escalonar horários de aulas que evitem os horários de pico dos transportes coletivos e medidas no transporte escolar. Não dá para misturar um monte de pessoas, trabalhadores, estudantes, crianças e adultos respirando o ar alheio num transporte público lotado. Por fim, o ISRAP considera que as escolas devem estar preparadas para lançar mão do ensino remoto para parcela dos alunos conforme a classificação de risco. Nem todos poderão estar na escola todo tempo, ou porque não se sentem seguros, ou porque a transmissão aumentou. É necessário ter estratégias sólidas para levar o ensino a todos, apesar da distância.
A inversão de prioridades no país colocou a educação como um dos primeiros setores e fechar e um dos últimos a reabrir. Deveria ser a última a fechar e a primeira a reabrir. Sem planejamento e ajustes adequados, o ensino remoto acentuou as desigualdades e multiplicou os desafios na retomada das aulas presenciais. Deveríamos ter aproveitado o período de um ano e meio de achatamento da curva epidemiológica para preparar nossas escolas para um retorno gradual e seguro. O levantamento da Rede de Pesquisa Solidária mostra que mais esta oportunidade de enfrentar essa crise pandêmica sem precedente foi perdida. O Brasil continua a correr atrás do prejuízo.
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