terça-feira, 31 de agosto de 2021

Percepção parcial sobre o pouco destaque às paraolimpíadas

Adilson Roberto Gonçalves
IPBEN Unesp Rio Claro

A Folha de S. Paulo quis saber de seus leitores a percepção sobre a valorização da paraolimpíada em relação à olimpíada. A pergunta feita foi essa:

“Por que o Brasil vai bem nas paralimpíadas [sic] mas isso tem pouco destaque?”

O jornal não informa quantos responderam à enquete. Foram publicadas somente cinco respostas na edição de 29 de agosto de 2021, na seção Painel do Leitor, página A3 do impresso. Desses comentários selecionados, um dizia sobre nossas próprias barreiras para enxergar a superação das limitações desses atletas, citando o ministro da Educação e suas falas recentes quanto a pessoas com deficiências atrapalharem o processo educacional. Outra leitora argumentou que o movimento paraolímpico é recente e que, por isso, ainda não atraiu o devido investimento e patrocínio. No entanto, cabe informar que os Jogos Paraolímpicos começaram em 1960, em Roma, ou seja, há 61 anos. Uma indignação sobre essa menor valorização compôs outro registro e a quarta manifestação afirmava que, na opinião da autora, os brasileiros estão acostumados a criar heróis, enquanto os atletas seriam deuses.

A quinta manifestação – a única de um homem – de minha autoria, sofreu uma mudança de uma palavra, além de cortes significativos no texto enviado, o que mudou o sentido da opinião. Reproduzo na íntegra o material enviado:

O menor reconhecimento aos atletas paraolímpicos, creio eu, é devido à vergonha da capacidade alheia, ou seja, como é que alguém amputado, com deficiências, consegue tal desempenho e eu reclamando da dor no joelho, de usar óculos, e de outras pequenezas? Com os atletas olímpicos, tal barreira não existe porque a comparação muda de patamar, sendo exemplos para os quais justificamos serem inatingíveis em função do alto desempenho em corpos melhores que os nossos.

As frases finais em itálico foram omitidas e o termo olímpicos, destacado em negrito, foi substituído por paralímpicos pelos editores. O trecho inicial “vergonha da capacidade alheia” foi substituído por “vergonha da nossa incapacidade”. Na intenção de simplificar, o editor alterou o significado do comentário.

Ainda que a opinião publicada não reproduza exatamente o pensamento do leitor, o recorte feito é significativo quanto ao desconhecimento que ainda se tem sobre esportes de alto rendimento praticado por pessoas com deficiências e sua importância no enredo social, cultural e econômico do país.

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