Adilson Roberto Gonçalves
IPBEN Unesp Rio Claro
A Folha de S. Paulo quis saber de seus leitores a percepção sobre a valorização
da paraolimpíada em relação à olimpíada. A pergunta feita foi
essa:
“Por que o Brasil vai
bem nas paralimpíadas [sic] mas isso tem pouco destaque?”
O jornal não informa
quantos responderam à enquete. Foram publicadas somente cinco
respostas na edição de 29 de agosto de 2021, na seção Painel do
Leitor, página A3 do impresso. Desses comentários selecionados, um
dizia sobre nossas próprias barreiras para enxergar a superação
das limitações desses atletas, citando o ministro da Educação e
suas falas recentes quanto a pessoas com deficiências atrapalharem o
processo educacional. Outra leitora argumentou que o movimento
paraolímpico é recente e que, por isso, ainda não atraiu o devido
investimento e patrocínio. No entanto, cabe informar que os Jogos
Paraolímpicos começaram em 1960, em Roma, ou seja, há 61 anos. Uma
indignação sobre essa menor valorização compôs outro registro e
a quarta manifestação afirmava que, na opinião da autora, os
brasileiros estão acostumados a criar heróis, enquanto os atletas
seriam deuses.
A quinta manifestação
– a única de um homem – de minha autoria, sofreu uma mudança de
uma palavra, além de cortes significativos no texto enviado, o que
mudou o sentido da opinião. Reproduzo na íntegra o material
enviado:
O menor reconhecimento
aos atletas paraolímpicos, creio eu, é devido à vergonha da
capacidade alheia, ou seja, como é que alguém amputado, com
deficiências, consegue tal desempenho e eu reclamando da dor no
joelho, de usar óculos, e de outras pequenezas? Com os atletas
olímpicos, tal barreira não existe porque a comparação
muda de patamar, sendo exemplos para os quais justificamos serem
inatingíveis em função do alto desempenho em corpos melhores que
os nossos.
As frases finais em
itálico foram omitidas e o termo olímpicos, destacado em negrito, foi substituído por paralímpicos pelos editores. O trecho inicial “vergonha da capacidade alheia”
foi substituído por “vergonha da nossa incapacidade”. Na intenção de simplificar, o editor alterou o significado do comentário.
Ainda que a opinião
publicada não reproduza exatamente o pensamento do leitor, o recorte
feito é significativo quanto ao desconhecimento que ainda se tem
sobre esportes de alto rendimento praticado por pessoas com
deficiências e sua importância no enredo social, cultural e
econômico do país.
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