Inusitada, progressão mostra erro do Plano São Paulo que estimula aumentar leitos porque a doença aumentou ao invés de diminuir leitos porque a doença diminuiu.
Eduardo Kokubun, UNESP
Com a pandemia se espalhando pelo país, o Departamento Regional de Saúde (DRS) de Piracicaba foi o único que progrediu na atualização do Plano São Paulo na semana passada. Outras 6 regiões regrediram, o que reflete o grave estágio da pandemia no estado. O mapa da nova classificação mostra que o DRS de Piracicaba ficou espremido por vermelhos mais ao norte e oeste, e laranja ao sul e leste. É uma ilha, separada por águas vermelhas e laranjas turbulentas de outras duas ilhas na baixada santista e Araçatuba.
O quadro no Estado de São Paulo, assim como em todo país, é gravíssimo. Governadores e prefeitos, antes reticentes em adotar medidas mais duras de controle do contágio, admitem abertamente a necessidade de adotá-las para evitar o colapso no sistema de saúde.
Os dados divulgados hoje, 02/03/2021 pela Fundação Municipal de Saúde mostram 5 óbitos, 130 leitos ocupados e um salto no número de jovens contaminados.
O Plano São Paulo utiliza 5 indicadores para classificar os DRS, dois para capacidade hospitalar e três para evolução da pandemia
No quesito, capacidade hospitalar, que tem dois indicadores considera a % de ocupação e a quantidade de leitos UTI disponíveis, o Regional de Piracicaba tirou de letra: carimbou verde nos dois.
Já no quesito evolução da pandemia Piracicaba quase não sai da fase laranja. O Estado contabiliza o número de novos casos, de novas internações e óbitos que ocorreram nos últimos 14 dias. Como em cidades mais populosas esses números aumentam, eles são corrigidos como se toda região tivesse 100 mil habitantes.
O número de novos casos bateu em 348 por 100 mil habitantes em 14 dias, um pouco menos do que o limite de 360 para ficar na laranja e distante de 180 que poderia levar para a verde. Note ainda, no gráfico à esquerda, que o DRS permaneceu boa parte de janeiro e fevereiro com indicadores da fase laranja e diminuiu poucos dias antes da reclassificação.
O número de novas internações ficou em 56, também perto da zona laranja de 60. O gráfico do meio mostra que as internações não param de crescer desde o início de janeiro. Entramos em março ontem, na faixa laranja.
Em óbitos, Piracicaba emplacou 6,7 abaixo do limite de 8 para a fase laranja, mas acima dos 3 para a verde. O último gráfico à esquerda mostra que os óbitos não param de crescer desde novembro do ano passado!
Um DRS só alcança a zona vermelha se houve alta taxa de ocupação e poucos leitos UTI. Se a pandemia estiver furiosa, infectando, internando e matando muita gente, o máximo que pode acontecer é alcançar a fase laranja. Não deveria ser assim: casos, internações e óbitos elevados sinalizam uma tendência para o futuro. É a causa de hospitalizações, e como causa, é a primeira coisa que precisa ser atacada. Sem reduzir substancialmente o número de novos casos, não há como reduzir as consequências: internações, ocupações de leitos e óbitos.
As consequências dessa flexibilidade excessiva já está aí. Municípios por conta própria decretam medidas mais rigorosas do que aquelas previstas pelo Estado. Araraquara há duas semanas e hoje, Campinas.
Texto atualizado em 02/03/2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário