sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Médicos sem ciência

Adilson Roberto Gonçalves
Unesp Rio Claro

Sem ciência e sem consciência podemos classificar esses médicos que desconsideram todos os estudos que comprovam a ineficácia do que se chama tratamento precoce contra a Covid-19. Além disso, há, dentro desse grupo, os que questionam as vacinas, o distanciamento social e o uso de máscara como procedimentos fundamentais para o combate da doença.

Desta forma, foi contrastante a Folha de S. Paulo publicar como alerta esclarecedor o artigo "Em nenhum momento a pandemia assolou o Brasil como agora" (Tendências/Debates, 23/2), juntamente com a propaganda de um tal Médicos pela vida, defendendo os postulados apresentado no parágrafo acima. Aquele é um artigo de renomados e experientes médicos, todos dedicados ao estudo da pandemia atual e agindo para a mitigação de seus efeitos e para o desenvolvimento de vacina, alertando para as novas cepas do coronavírus se espalhando pelo interior paulista. O outro é anônimo, de um grupo negacionista que também é contra o estímulo à vacinação e deve ter sido muito bem pago para sair publicado.

O anúncio pago foi publicado simultaneamente em vários outros jornais e causou indignação ao longo da semana. Acompanhando a manifestação dos leitores da Folha, o tom era de indignação, de desânimo pela ineficiência do combate à desinformação e de médicos alertando que tais pressupostos enganosos somente são propalados aqui no Brasil. Destaque para o manifesto do Coletivo 342Artes, assinado por 40 artistas (mais de 70 no documento original) defendendo os postulados da Sociedade Brasileira de Infectologia, alinhada às recomendações médico-científicas. A Ombudsman da Folha, Flávia Lima, foi acionada para analisar esse paradoxo e veremos se algo será publicado na edição de domingo do jornal.

A entidade que pagou o anúncio se chama "Associação Médicos Pela Vida" e tem sede em Recife-PE. O site Brasil 247 detalhou as atividades desse grupo e de seus integrantes envolvidos em outras polêmicas de cunho negacionista e contrários às evidência científicas. Alguns foram candidatos derrotados nas eleições de 2020 e veiculam vídeos com fake news em suas redes sociais. Uma das médicas chegou a afirmar que os pressupostos do grupo são apoiados por mais de 10 mil médicos, mas o site indica um total de menos de 80 profissionais que o subscrevem. A matéria completa pode ser lida neste link aberto.

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